O nada nem sempre faz sentido, ou é sentido quando não se tem nada. Versos sem rimas,poesia sem quarteto,tudo fora da ordem natural das coisas.
Conhece-se muito pouco o ser “eu”, ser “nosso”, ser do “outro”, sabe-se nada a respeito de ninguém. Supõe-se, imagina-se... Compõe-se.
Somos espetáculos sem platéia, sozinhos... Esperando no meio do nada um aplauso, um sinal de alguém que esteja ali pelo menos espiando...
A rua está escura, o céu está escuro, os Deuses não ouvem nossos apelos, todos estão recolhidos ao nada, ao tudo... Ao pretender ter, ao querer Ser.
Às vezes somos só momento,e outras vezes só matéria,só carne,só excitação...moramos em nós,como se não fossemos nós...muda-se o humor, recolhe-se o riso...flui lágrimas,muda-se o rosto,a veste...
Cometem-se crimes, escondem-se os corpos, somos assassinos de nós mesmos... Matamos quem somos, matamos o queremos, o que sonhamos... Matamos sentimentos.
Quem somos não está escrito no livro do destino, não somos descrição de nada, somos composições de nossas atitudes, muitos vezes somos apenas feto, esperando o desenvolver da vida, a maturidade dos órgãos, os traços de quem vamos ser.
Ser humano às vezes dá trabalho... Como seria bom voar, ser pássaro... E se recolher ao ninho. Fugir do mundo, da destruição do homem, do egoísmo, da falta de generosidade.
Fluir... Fluir pelo mundo.
Não encontrei no dicionário quem eu sou, nem nos livros de história que li, nem nos pensamentos dos filósofos... Sou o que nem eu mesmo entendo. Sou interrogação, exclamação...
Sou sempre o querer meu, querer insaciável de mim... Não entendo o que muitas vezes quero, apenas sinto, apenas penetro, em alguns momentos fora de mim.
Desconheço meus instintos, são quase sempre invisíveis aos meus olhos, são apenas instintos abstratos, sem forma... Sem legenda.
Confesso que viver exige esforços, não físicos, mas esforço da alma, do ser. Porque não se vive apenas por viver... Vivemos pra tentar ser feliz, pra amar, pra lutar, pra capitalizar... Enfim... Viver gera um grande cansaço, mas é compensador, e prazeroso... É, sobretudo, encantador.
A vida encanta. Quem não se encanta com ela é porque não sabe viver... Não aprendeu a lutar, não aprendeu a ser. Porque tê-la é um privilégio, e quando se perde... quase nada resta de seu.
Confesso aos deuses que ser VIDA é ser flor, ser semente, brotar, desabrochar, ser regada, multiplicar... Sou flor e tenho o perfume da minha semente.
E descobri que assim sendo,cada um tem seu perfume,seu caule,sua raiz...dividimos a mesma terra,mas entendo que nem sempre somos só beleza,encanto,admiração... somos também o murchar,a semente que não brotou,a terra que não regou.
Enfim, viver requer cuidados,amor,dedicação. Entendi que ser humano é cultivar o perfume que o nosso ser exala entre as pessoas,...ser apenas flor que alegra,perfuma,encanta...delicada e forte.Ser flor pra mim,pra alguém...ou simplesmente apenas pra ser.
Ana Clea Bezerra
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