Sponsors

.

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010



 - Sabe aqueles dias em que você acorda sem nenhuma inspiração? Pois é...e como não queria ficar sem postar, encontrei em meus arquivos  uma crônica maravilhosa sobre as mulheres, escrita pela jornalista e escritora Martha Medeiros.


Mulheres possíveis


Eu não sirvo de exemplo para nada, mas, se você quer saber
Se isso é possível, me ofereço como piloto de testes.
Sou a Miss Imperfeita, muito prazer.
Uma imperfeita que faz tudo o
que precisa fazer, como boa profissional, mãe e mulher que
também sou: trabalho todos os dias, ganho minha grana, vou
ao supermercado três vezes por semana, decido o cardápio das
refeições, levo os filhos no colégio e busco,
almoço com eles, estudo com eles, telefono para minha mãe
todas as noites, procuro minhas amigas, namoro, viajo, vou
ao cinema, pago minhas contas, respondo a toneladas de e-mails, faço
revisões no dentista, mamografia, caminho meia hora
diariamente, compro flores para casa, providencio os consertos
domésticos, participo de eventos e reuniões ligados à minha
profissão e ainda faço escova toda semana - e as unhas!
E,  entre uma coisa e outra, leio livros.
Portanto, sou ocupada,
mas não uma workaholic.
Por mais disciplinada e
responsável que eu seja, aprendi duas coisinhas que operam
milagres.
Primeiro: a dizer NÃO.
Segundo: a não
sentir um pingo de culpa por dizer NÃO.
Culpa por nada,
aliás.
Existe a Coca Zero, o Fome Zero, o Recruta
Zero.
Pois inclua na sua lista a Culpa
Zero.
Quando você nasceu, nenhum profeta adentrou a sala da
maternidade e lhe apontou o dedo dizendo que a partir
daquele momento
você seria modelo para os outros.
Seu pai e sua mãe,
acredite, não tiveram essa expectativa: tudo o que
desejaram
é que você não chorasse muito durante as madrugadas e
mamasse direitinho.
Você não é Nossa Senhora..
Você é, humildemente, uma mulher.
E, se não
aprender a delegar, a priorizar e a se divertir, bye-bye
vida interessante.
Porque vida interessante não é ter a
agenda lotada, não é ser sempre politicamente correta,
não é topar qualquer projeto por dinheiro, não
é atender a todos e criar para si a falsa impressão de
ser indispensável.
É ter
tempo.
Tempo para fazer nada.
Tempo para fazer
tudo.
Tempo para dançar sozinha na sala.
Tempo para
bisbilhotar uma loja de discos.
Tempo para sumir dois dias com seu
amor.
Três dias.
Cinco dias!
Tempo para uma
massagem.
Tempo para ver a novela.
Tempo para receber aquela sua
amiga que é consultora de produtos de beleza..
Tempo para
fazer um trabalho voluntário.
Tempo para procurar um abajur
novo para seu quarto.
Tempo para conhecer outras  pessoas.
Voltar a estudar.
Para engravidar.
Tempo para escrever um
livro que você nem sabe se um dia será editado.
Tempo,
principalmente, para descobrir que você pode ser
perfeitamente
organizada e profissional sem deixar de existir.
Porque nossa
existência não é contabilizada por um relógio
de ponto ou pela quantidade de memorandos virtuais que
atolam nossa caixa
postal.
Existir, a que será que se destina?
Destina-se a
ter o tempo a favor, e não contra.
A mulher moderna anda muito
antiga. Acredita que, se não for super, se não for mega,
se
não for uma executiva ISO 9000, não será bem
avaliada.
Está tentando provar não-sei-o-quê para
não-sei-quem.
Precisa respeitar o mosaico de si mesma,
privilegiar cada pedacinho de si.
Se o trabalho é um
pedação de sua vida, ótimo!
Nada é mais
elegante, charmoso e inteligente do que ser independente.
Mulher que
se sustenta fica muito mais sexy e muito  mais livre para
ir e vir.
Desde que lembre de separar alguns bons momentos da semana
para usufruir
essa independência, senão é escravidão, a mesma
que nos mantinha trancafiadas em casa, espiando a vida pela
janela.
Desacelerar tem um custo.
Talvez seja preciso esquecer a bolsa
Prada, o hotel decorado pelo Philippe Starck e o batom da
M.A.C.
Mas,
se você precisa vender a alma ao diabo para ter tudo isso,
francamente, está precisando rever seus valores.
E descobrir
que uma bolsa de palha, uma pousadinha rústica à
beira-mar e
o rosto lavado (ok, esqueça o rosto lavado) podem ser
prazeres
cinco estrelas e nos dar uma nova perspectiva sobre o que
é,
afinal, uma vida interessante'.

Martha Medeiros - Jornalista e
escritora

0 comentários:

Postar um comentário

Share

Twitter Delicious Facebook Digg Stumbleupon Favorites More